sábado, 26 de fevereiro de 2011

Gastar amor

Não vou definir amor. Sei o que é, e acredito que todos sabemos, e acredito também que todas as definições sejam diferentes e igualmente correctas. Aliás, amor, de qualquer tipo que seja, não cabe numa definição, não se suprime a palavras e não cabe em três linhas. Cabe em pessoas, cabe em corações, cabe em memórias.
E o problema, ou a questão, é que agora toda a gente se julga muito sabedor de amor. Toda a gente ama, toda a gente diz amar toda a gente. Ama-se o pai, a mãe, o amigo, a amiga, o conhecido de meses, o conhecido de minutos, e até o rapaz giro do terceiro andar. Já para não falar nos namorados, que esse sim é o cerne da questão. Amamos, ou dizemos amar, o primeiro, o segundo, o terceiro e até o quarto, mas com o passar do tempo vemos que é diferente. Não sei se o sentimento, se nós, se a perspectiva, mas há alguma coisa que muda. O amor gasta-se. Perde-se nas paixões no básico que duram anos, que faziam saltar o coração descontroladamente, que nos faziam sentir estarrecidas e completamente petrificadas na presença de outrém. E entenda-se por isto, paixões não correspondidas. Porque eu ainda sou do tempo em que ninguém com treze anos namorava com ninguém, ninguém dava beijinhos na boca, havia simplesmente paixões ardentes que nunca davam em namoro de praça pública. E era aí que o amor se gastava, era aí que faziamos tudo por alguém, era aí que eramos pisadas e repisadas sem sequer nos importarmos com isso. E até sabia bem, até trazia emoção. Era um jogo de gato e rato sem fim, que se arrastava indefinidamente sem nunca perder a piada, sem nunca mudar. Hoje gostas tu, amanhã gosto eu, e vamos andar assim até percebermos que somos grandes e temos de namorar. Ou não.
Entretanto o tempo passa e aparece a palavra crescer, e saltitar com luzes néon e que nos obriga a dar um salto, seja ele qual for, e que de uma forma ou de outra nos muda. E aí sim, as regras do jogo mudam. As paixões lindas e maravilhosas de todos os dias, passam a namoros de meses, a emoções rotineiras, a frases feitas e a sentimentos encurralados. Há uma barreira. Percebemos que o que sentimos antes não queremos ou não nos deixamos sentir de novo, não há espaço para um novo tu. Não, porque os tu's do passado ainda ocupam, ainda os carregamos às costas e muitas vezes no coração. Ainda sonhamos, ainda queremos, ainda sentimos. E por isso é que o coração já não salta, já não nos sentimos bem com uma carta escrita ou com um ursinho de peluche. Porque isso era antes, e o antes não deu resultado, não o resultado que nós queríamos. E isso não faz de nós más pessoas, não nos torna frias, torna-nos reais. Porque sabemos que o amor não é uma nuvem cor-de-rosa numa linda tarde de Verão. Nuvens cor-de-rosas não existem e agora no Verão às vezes chove e faz frio. Por isso não me venham com histórias do amor é para sempre e quero casar contigo, porque isso para mim são balelas e amores de gente imatura. Não que não tenha sido assim também, e que não tenha gostado, adorei, mas não se concretizou e o sempre tornou-se numa bola de orgulho, ora não falo eu, ora não falas tu, ora não fala ninguém e eu sou melhor que tu e tenho mais namorados. Mas isso são outras conversas.
O amor está gasto, foi gasto por anos e anos que apesar de não serem em vão, deixam uma certa pontinha de mágoa. Apetece reviver, mas fazer as coisas ao contrário. Apetece concretizar. E moral da história, precisamos de ser libertar, de largar a corda, a enorme corda, que ainda nos prende ao passado, que nos prende ao tu ou aos tu's que existiram, e que ainda hoje nos fazem comportar de uma certa forma, quer face a eles que face aos que se encontram connosco no presente. Porque enquanto essa corda existir, o coração não vai saltar, não vai haver emoções, não vamos sentir necessidade de usar o amor. Temos de aprender e interiorizar duma vez por todas, que os tu's antigos não vão existir mais, e o que fizemos e sentimos não vai ser novamente repetido, eles não vão voltar, não nos vão amar de novo, ou ainda que tenham uma pontinha de um sentimento qualquer, esse sentimento não vai ser revelado. Então o melhor a fazer é mesmo deixar entrar outro tu, que gosta de nós como somos, mudadas, frias ou amargas. Outro tu que obviamente vai ser diferente, mas ninguém é igual a ninguém e nós também não somos iguais. Temos de aprender a lidar com isso, temos de aceitá-lo e deixar, duma vez por todas, de complicar tudo porque a, b, c ou d é que era bom e tu agora és mau e não gosto de ti como gostava de outrém. Gosto de ti sim, adoro-te, amo-te e és tudo o que posso querer em alguém. Estas sim são as palavras a reter.


E é isto basicamente, é tudo muito simples, acreditem.
Just deal with it.


Iz

3 comentários:

  1. Isto é tão perturbavelmente verdade que nunca sequer tentei perceber.

    P.S. Quando posso passar pelo teu consultório sentimental? XD

    Um beijinho enorme (gigante!) de saudades

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  2. Podes passar quando precisares, quando não precisares, quando quiseres e até quando não quiseres !

    tenho tantas toneladas de saudades tuas, que isso sim me deixa perturbavelmente sentimental :/

    p.s.: e tu, postares aqui qualquer coisinha osbre a tua (nova) vida, ahm ?

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  3. Como é possível sermos tão parecidas em tantas coisas?
    Talvez porque a única certeza que temos é que nos vamos AMAR a nós próprias, sempre!

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